A Editora Via Litterarum – Via entrevista o poeta, escritor e professor Piligra, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.
SOBRE O ATO DE ESCREVERVIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como LEITOR e que a leitura faria parte de sua vida?
PI – Eu descobri o universo da leitura através da minha mãe e dos meus tios que desde cedo nos presenteavam com gibis. Ao amadurecer, a partir dos 14 anos passei a fazer da leitura um hábito diário que cultivo até hoje.
VIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?
PI – Eu nunca pensei em me tornar um escritor, muito menos poeta. Minha primeira forma de expressão estética foram o desenho e a pintura, posteriormente a música e o teatro e só por último a literatura. Iniciei na pintura e no desenho aos 14 e segui até os 17. A música dediquei 5 anos dos 22 até 27. E a partir dos 30 anos, ainda cursando Filosofia, dei início a minha carreira de poeta. Ofício do qual me orgulho e sinto-me em casa.
VIA – Hoje, em termos de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?
PI – Eu nunca fiz da literatura, em especial o trabalho com a poesia, um simples hobby. Desde o início busquei Introduzir o trabalho poético nas minhas ocupações gerais. Em outras palavras: assumi o trabalho com a poesia como uma parte do meu trabalho de professor sempre vinculando meu material de aula a poetas e escritores. Atualmente encontro-me dividido em quatro grandes ocupações: cuidar da minha filha, desenhar e pintar, escrever e preparar aulas.
VIA – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?
PI – Não há dúvida de que há uma ligação entre o trabalho poético e a existência humana. Por algum tempo segui com essa compreensão, inclusive fazendo do ato poético de criação uma terapia e uma força de transcendência rumo ao divino. Hoje, no entanto, tenho o trabalho poético como um ofício sério, difícil, solitário e que exige de quem a ele se dedica tempo, coragem e estudo. Na base do meu processo criativo três coisas ganham destaque: primeiro o trabalho incansável com a forma poética; segundo o estudo diário da estrutura do poema e de seus elementos constitutivos: o ritmo, a metáfora e a linguagem; terceiro a leitura cuidadosa e inspiradora dos grandes poetas, de Homero à Drummond, de Hesíodo a Borges, de Dante a Shakespeare, de Suassuna a Augusto dos Anjos, de Castro Alves a Patativa do Assaré, de Minelvino a Florisvaldo Mattos, de Florbela Espanca a Cyro de Mattos, de Bandeira a Arnaldo Antunes…só para citar alguns.
VIA – No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escritor?
PI – Eu tenho uma rotina organizada de trabalho. Como escrevo direto no celular, abandonei o papel e a caneta faz 6 anos, desde então utilizo o smartphone tanto para escrever quanto para desenhar e pintar. Na composição de um novo livro separo sempre algumas horas do dia para escrever: em geral no turno matutino, momento em que, a mente, ainda sob os efeitos do poder dos sonhos, se dilui na linguagem revelando as metáforas e o ritmo intenso das vivências.
VIA – Como fica a sua relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?
PI – Não sou nem me considero um poeta por inspiração, embora admita algo de divino no processo criativo. Sou um poeta do trabalho árduo, da lida constante e do domínio formal completo do meu objeto de trabalho: o poema. Não obstante, não tenho por ethos a revisão ou re-escrita de um poema, em geral, pelo domínio que passei a ter sobre a linguagem poética, considerando a métrica, o ritmo e a expressão simbólica. Meus poemas são escritos de um só golpe – não tenho lembrança de quando precisei modificar a ideia ou o conteúdo de um poema. Isso não significa que não faço correções formais da ordem da ortografia, concordância e sentido.
SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA:
VIA – Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?
PI – Eu tenho em mim, na forma de cicatrizes n’alma, dezenas de autores e obras que delimitaram e delimitam minha lida com a linguagem poética, desde poetas, romancistas, contistas, pintores e filósofos. Homero, Hesíodo, Horácio, Virgílio, Petrarca, Dante, Bocacio, Cevantes, Shakespeare, Erasmo de Roterdã, Platão, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Joyce, Dostoiévski, Nietzsche, Zé da Luz, João Cabral, Goethe, Shelling, Rilke, Lorca, Jorge Amado, Adonias Filho, Bandeira, Vinícius, Fernando Pessoa…dentre outros…
VIA – Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?
PI – Hoje tenho 10 obras publicadas.
VIA – Qual obra considera a principal?
PI – Tenho carinho por três obras: Invertebrados (publicada pela Mondrongo), Cante aí que eu canto aqui (publicada pela Via Litterarum) e A menia dos olhos de ouro (Editus).
VIA – Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e que experiencias possui em relaçao aos outros generos literários?
PI – Em geral minha obra se situa em duas vertentes da literatura: a clássica, com sonetos e a popular com o cordel.
VIA – Quanto escreve ficção, ao iniciar a narrativa está praticamente pronta ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?
PI – …
VIA – Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?
PI – Desafio. A literatura a partir de agora estará sempre diante de um desafio: encontrar leitores.
VIA – Qual o maior problema para a poesia e a ficçao, em uma palavra, para a literatura hoje?
PI – Encontrar leitores e leitoras.
VIA – Em qual (ou quais) projeto literário está se dedicando no momento?
PI – Agora estou voltando a criação de uma nova editora.