Encontro em prosa e verso: Leila Oliveira

A Editora Via Litterarum – Via entrevista a poetisa, escriora e psicóloga Leila Oliveira, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.

Leila Oliveira
Leila Oliveira

SOBRE O ATO DE ESCREVER

VIA –  Como e em que momento ou circunstância se percebeu como LEITORA e que a leitura faria parte de sua vida?

LO – Não me percebi ainda (Risos).

Quando era criança pegava pilhas de gibis emprestado e adorava devorá-los, voltar e trocar por outra pilha. Uma vizinha tinha um quarto lotado de material de leitura. Infinitos gibis.

Gostava de ir à biblioteca da escola, pegar livros emprestados.

Minha mãe não deixava assistir algumas novelas, então eu ia ler o que tinha na estante. Nisso, li coisas que, cujas metáforas, nem sei se entendia, como em “A revolução dos bichos”, por exemplo.

VIA –  Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?

LO – Em 2020 aconteceu muita coisa. Inclusive a escrita.

Um momento pessoal me fez desaguar em palavras, ideias, impulsos, pulsões. Encontrei leitores que me encorajaram. Foram fundamentais.

VIA –  Hoje, em termos de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?

LO – Não tenho regularidade, rotina. Escrevo quando sou tocada, por situação, assunto, pessoa, paisagem, ser. A escrita é um afeto, um modo de expressar o que e como sou afetada. E eu amo essa sensação.

Adoro todo o processo, desde me sentir afetada até ver esse afeto encarnar em um texto.

VIA – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?

LO – Em cada fase tem um sentido. Já foi extremamente terapêutico e necessário, já foi para expressar alegria, já foi pra livrar de ideias que afugentam meu sono nas madrugadas. Já foi para derreter tristezas.

No momento, é porque acho lindo e me encanto pela forma que o texto toma. É pra dialogar, protestar, transformar.

A escrita é como um cultivo.

VIA-  No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escrito

LO – Não tenho uma regularidade, depende muito da época que estou vivendo,  como estou sendo afetada, se estou tendo momentos sozinha, que são fundamentais.

Posso escrever alguns textos em um mesmo dia, ou passar dias sem escrever.

VIA – Como fica a relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?

LO – Gosto de escrever no impulso, na energia do instante.

É como o devir para Heráclito. No instante seguinte não somos a mesma pessoa, o rio também é outro.

Geralmente mudo pouca coisa no texto, ou o ignoro, deixo quieto. Entendo como exercício.

SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA

VIA –  Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?

LO – Considero que a leitura funciona como os encontros que temos no percurso da vida, dessa forma, como acontece com pessoas interessantes que conhecemos, a cada momento me encanto com um autor ou autora.

O que me vem muito fácil à mente são os de escrita mais objetiva. Luís Fernando Veríssimo, Eduardo Galeano, Gregório Duvivier. Da poesia lembro do Drummond, Manoel de Barros, Paulo Leminsky, Viviane Mosé.

Da literatura infantil, gosto da maioria que cai nas minhas mãos. Amo Ziraldo Maurício de Souza e Ruth Rocha.

VIA –  Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?

LO – Duas.

Achei incrível a sensação de publicar, mas me frustrei ao me deparar com a falta de apoio a artistas regionais. Principalmente, por parte do poder público que poderia, por exemplo, trazer a literatura local para dentro da escola pública.

Por isso resolvi esperar um pouco mais.

VIA –  Qual obra considera a principal?

LO – Asas.

VIA – Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e que experiências possui em relação aos outros gêneros literários?

LO – Publiquei dois infantis inspirada pelas crianças que tenho.

Sem publicar (material impresso) tenho poesias e crônicas, que tem sido mais frequentes. A poesia me toca e tem muitos e muitas poetas que escrevem muito bem. Sobretudo aqui na região.

A crônica sempre me atraiu muito, principalmente pelo humor.

Curiosamente, na crônica consigo falar mais das questões sociais do que na poesia.

VIA –  Quando escreve ficção, ao iniciar, a narrativa está praticamente pronta ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?

LO – Ao iniciar uma narrativa, penso logo no final, que pode deixar o leitor com o coração acelerado de alegria e entusiasmo ou frustrado, até mesmo arrependido. E isso não é sobre ter um final feliz, mas sobre verossimilhança, coesão, coerência, envolvimento.

VIA –  Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?

LO – As redes sociais estampam a literatura para leitoras e leitores. Basta que já tenham pesquisado, e os algoritmos cuidam do restante. Independente de ser literatura, acredito que as redes contribuem muito para a leitura à medida que trazem muito material escrito. Seja do quadrinho, do meme, do diário, do periódico, da resenha de programas.

A partir daí, cabe a quem produz e dissemina a literatura, torná-la aprazível e acessível.

VIA –  Qual o maior problema para a poesia e a ficção, em uma palavra, para a literatura hoje?

LO – Precisamos educar para a leitura.

Contação de história, teatro, sala de leitura, festival literário, encontros de leitores e escritores.

Em nossa realidade não temos o básico que é uma biblioteca pública interessante, atualizada.

Educar em todas as idades.

VIA –  Em qual (ou quais) projeto(s) literário(s) está se dedicando no momento?

Estou colaborando com o Encontros em Prosa e Verso.

Penso em começar a organizar um livro de poesias ou crônicas. Enfim, ainda gestando.

 

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