Encontro em prosa e verso: Aramis Ribeiro Costa

Aramis Ribeiro Costa
Aramis Ribeiro Costa

VIA LITTERARUM:  Encontros Prosa e Verso com o poeta,  escritor e médico, integrante da Academia de Letras da Bahia Aramis Ribeiro Costa  – ARC  

A Editora Via Litterarum – Via entrevista o poeta, escritor e médico, integrante da Academia de Letras da Bahia, Aramis Ribeiro Costa, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.

SOBRE O ATO DE ESCREVER

VIA – Como e em que momento ou circunstância você se percebeu como LEITOR e que a leitura faria parte de sua vida?

ARC –  Fui leitor antes de aprender a ler, pois tinha contato com livros infantis e pedia às pessoas da minha família que lessem para mim. Aos seis anos de idade aprendi a ler, e o livro e a leitura se tornaram o meu principal interesse.

VIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?

ARC – Com a leitura, veio também o desejo de ser um escritor, ou seja, fazer exatamente aquilo que me fascinava. Mas só comecei a escrever aos 14 anos de idade, e aí também não parei mais. Desde esse começo, eu já me considerava um escritor.

 

VIA – Hoje, em termo de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?

ARC – A minha profissão sempre me deixou, para o meu trabalho de escritor, menos tempo do que eu desejaria. Escrevi o meu primeiro romance das dez da noite a uma, duas da madrugada, tendo de acordar às seis da manhã seguinte para trabalhar. Ainda assim, jamais abandonei os meus projetos. Agora é que posso reservar umas tantas horas do dia só para escrever.

VIA – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?

ARC – A vida vale por si mesma. É um bem único, breve e inalienável. Mas é um privilégio ter, além dela, um motivo. Escrever, para mim, é o meu grande motivo de vida. Escrevo para não morrer. Aliás, já teria morrido várias vezes, se não escrevesse.

VIA – No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escritor?

ARC – Deve haver alguma rotina, naturalmente, porque essa é a tendência de todo ser humano, e eu não escapo disso, mas procuro não tomar conhecimento dela, ou não a encarar dessa forma, pois, do contrário, o que é necessidade pessoal, vontade e prazer se tornaria uma obrigação. Algo assim como bater um cartão de ponto. Então, cada vez que me sento diante do computador para começar o meu trabalho de escritor, é como se estivesse fazendo uma coisa inteiramente nova e fascinante. E é. Porque cada escrita é uma escrita.

VIA – Como fica a relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?

ARC – Sem inspiração não há nada, absolutamente nada. Eu não seria capaz de escrever uma linha sequer, sem estar inspirado. Até mesmo esta entrevista, eu não responderia se não estivesse inspirado.

SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA

VIA – Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual a obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?

ARC – No geral, todos que li. Cada um contribuiu para o meu aprendizado de escritor, na medida em que o conhecimento dos acertos e dos erros alheios são fonte de ensinamento. Sempre fui um leitor eclético, tendo como motivação da leitura literária unicamente o prazer que ela me proporciona. E foi e tem sido bastante vasta. Na infância, toda a literatura infantil universal, e mais Lobato. Na adolescência, Alexandre Dumas, Michel Zevaco, Maurice Leblanc e Eça de Queiroz, principalmente. Na juventude, Alencar, Machado, Jorge Amado, Vasconcelos Maia e vários outros. Daí por diante, quem chegasse às minhas mãos, nacional ou estrangeiro, que tivesse qualidade, e me encantasse. Houve, porém, um autor que foi o mais constante, e que, por circunstâncias particulares, se tornou o meu principal formador: meu tio, Adroaldo Ribeiro Costa. Cronista diário do jornal A Tarde, eu o li diariamente dos meus oito anos de idade até os trinta e quatro, quando ele morreu. Como, além da leitura e da admiração que eu tinha por ele, eu sempre comentava a minha leitura com o próprio autor, que foi também um dos meus dois primeiros leitores, o primeiro foi meu pai, é de ver a influência que isso teve.

VIA – Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?

ARC – Bem mais de duas dezenas, mas evito contar. Tenho plena consciência de que o importante não é a quantidade, mas a qualidade.

VIA – Qual obra considera a principal?

ARC – Todos os títulos que publiquei até aqui são importantes para mim mesmo, fazem parte, indistintamente, de uma obra que vem sendo construída com paixão ao longo de muitos anos, dos meus sonhos de juventude aos meus desencantados cabelos brancos. Dei de mim o máximo para cada um deles, tive um grande prazer em publicar cada um, e estou satisfeito com todos. Se fosse obrigado a destacar, chamaria a atenção para um de não ficção, Memória de Itapagipe — anos 50 do século XX, publicado pela Edufba, e um de ficção, o romance As Meninas do Coronel, publicado pela Via Litterarum.

VIA –  Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e que experiências possui em outros gêneros literários?

ARC – Tenho escrito e publicado em todos os gêneros literários, e me recuso a qualquer especialização. Nunca fui especialista em nada, e pretendo morrer assim. Circunstâncias, meras circunstâncias, me fizeram escrever e publicar mais contos que qualquer outro gênero.

VIA – Quando escreve ficção, ao iniciar, a narrativa está praticamente pronta, ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?

ARC – Tenho sempre o esboço na cabeça, a ideia, sei o que quero e para onde vou. Sem isso, não faço nada. O que acontece ao longo da narrativa é que vai surgindo à medida que escrevo. O mais importante é que os personagens precisam ter vida própria já a partir do momento em que aparecem, e a personalidade que eles adquirem muitas vezes determinam falas e situações.

VIA – Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?

ARC – Tudo isso pode contribuir para a divulgação e a comercialização da literatura, mas não tem nada de literatura, nem com a literatura. A não ser a existência e a venda do livro eletrônico. Que, aliás, não tem a minha simpatia. Tenho necessidade do objeto livro.

VIA – Qual o maior problema para a poesia e a ficção, em uma palavra, para a literatura de hoje?

ARC – O desinteresse.

VIA – Em qual (ou quais) projeto(s) literário(s) está se dedicando no momento?

ARC – Tenho por hábito e necessidade criativa me dedicar a mais de um trabalho ao mesmo tempo. Sempre foi assim, continua assim. Mas, a minha experiência pessoal no assunto me impede de revelar no que estou trabalhando, pois isso prejudica o trabalho. Um conhecido intelectual baiano, meu amigo, costumava dizer que filho e livro se deve fazer em segredo. Concordo com ele.

 

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