A Editora Via Litterarum – Via entrevista a poetisa e escritora Ana Valéria Fink, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.
SOBRE O ATO DE ESCREVERVIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como LEITOR e que a leitura faria parte de sua vida?
AVF – Ainda muito criança, meus pais liam para nós, os filhos, quase que diariamente. Quando alfabetizada, assim que descobri a biblioteca da escola virei frequentadora assídua.
VIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?
AVF – Fui estimulada por duas tias a escrever e ilustrar uma história, o que se deu em “capítulos”, pois só o fazia quando em casa delas. Mais tarde, cursando o que hoje se denomina Ensino Médio, tive um professor de Português que nos fazia redigir ao menos um parágrafo, diariamente. Eu por vezes passava de uma página…
VIA – Hoje, em termos de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?
AVF – Posso dizer que 100%, já que, depois de aposentada como dentista, atuo como revisora.
VIA – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?
AVF – Provavelmente a necessidade de auto-entendimento. Para escrever, é necessário prescrutar as emoções.
VIA – No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escritor?
AVF – Não tenho rotina. Alterno períodos de grande produção com outros de total inatividade. Mas isso não é uma preocupação.
VIA – Como fica a relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?
AVF – É interessante, os poemas “vêm” praticamente prontos, quase não é preciso burilá-los. Já as crônicas e contos passam por alguns processos de reescrita.
SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA
VIA – Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?
AVF – Como sou leitora voraz desde há muito, é difícil nominar apenas uns poucos. De supetão, cito Clarice Lispector, Machado de Assis, Neruda, Saramago, Leminski, Adélia Prado, Simone de Beauvoir, Marina Colasanti, ufa…
VIA – Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?
AVF – Um livro infantil, dois de crônicas, um de poemas e outro a sair ainda este ano.
VIA – Qual obra considera a principal?
AVF – O primeiro não se esquece… REGANDO OS JARDINS DO SENHOR E OUTRAS CRÔNICAS (Via Litterarum, 2015)
VIA – Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e que experiências possui em relação aos outros gêneros literários?
AVF – Crônicas, poemas, um conto infantil, estes já publicados. Na categoria contos, para adultos, até hoje só escrevi três, mas um foi premiado. Tenho trabalhado algumas ideias de novos contos. E ando me arriscando, a engatinhar na escrita de um romance.
VIA – Quando escreve ficção, ao iniciar, a narrativa está praticamente pronta ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?
AVF – Experimentei poucas vezes a ficção, mas nestas os enredos já estavam definidos.
VIA – Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?
AVF – Vejo por dois lados: a facilidade de acesso, como altamente positiva; e a concorrência com outras modalidades talvez mais atrativas, especialmente para a juventude, como negativa.
VIA – Qual o maior problema para a poesia e a ficção, em uma palavra, para a literatura hoje?
AVF – Público!
VIA – Em qual (ou quais) projeto(s) literário(s) está se dedicando no momento?
AVF – Em fase de lançamento o novo livro de poemas; são poemas de luto, escritos nos dois, três primeiros anos de minha viuvez.
Tenho ensaiado, em ritmo bastante lento, um romance, sem cobrança de prazo.
Alguns poemas esparsos, sempre há. E tenho desenvolvido algumas anotações que fiz para contos.