Além de contos em publicações esparsas, a exemplo de jornais, revistas e antologias, Ruy Póvoas traz agora seu terceiro livro desse tipo de gênero literário, neste Oratório. São dez contos por ele produzidos especificamente para este novo livro. Conforme ele mesmo esclarece em prefácio a esta edição, o vocábulo ORATÓRIO remete a um tipo de composição ou poema vocal-instrumental de caráter dramático e de vastas proporções, que utiliza, predominantemente, textos da Bíblia. A partir desse núcleo de significação, Ruy Póvoas transcende os limites da definição e mergulha no enfoque do fazer e do viver de um segmento social em suas práticas religiosas afrodescendentes.
Então, cada um dos contos é construído num trabalho literário que, para além do trato criativo com a linguagem e com o foco narrativo, envolve personagens na busca de solução para suas angústias, conflitos, no que o autor denomina “padecimentos da desistência”. Ocorre, no entanto, que tais personagens são legítimos representantes da fauna humana.
Conforme afirma a professora Marialda Jovita Silveira, este Oratório é organizado a partir do ato de rememorar, fundado na tradição sobre a memória, construído através de narrativas em mosaico. As reminiscências de seus protagonistas acabam por determinar um modus narrativo interessante: ora o narrador, ora o personagem, na costura de retalhos que convidam o leitor a unir os fragmentos para a construção do grande mosaico. A narrativa se configura, então, como mosaicos-de-si, que são também mosaicos de outros, coletivos, capeados pelo resgate da tradição, sob rezas, lugares, jeitos-de-ser.
Autor: Ruy do Carmo Póvoas
Ruy do Carmo Póvoas (1943) nasceu em Ilhéus. A partir de 1970, fixou residência em Itabuna, onde fundou o Ilê Axé Ijexá, terreiro de candomblé de origem nagô, de nação Ijexá, no qual exerce a função de babalorixá. É licenciado em Letras pela antiga Faculdade de Filosofia de Itabuna e Mestre em Letras Vernáculas (UFRJ). Lecionou Língua Portuguesa durante 50 anos, até quando se aposentou pela UESC. Coordenou, durante 16 anos, o Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais – Kàwé, da Universidade Estadual de Santa Cruz, do qual é fundador. Também, sob sua coordenação, foram criados o Jornal Tàkàdá, o Caderno Kàwé e a Revista Kàwé. Poeta, contista e ensaísta, Ruy tem publicado: Vocabulário da paixão, A linguagem do candomblé, Itan dos mais-velhos, Itan de boca a ouvido, A fala do santo, VersoREverso, Da porteira para fora, A memória do feminino no candomblé, Mejigã e o contexto da escravidão, A viagem de Orixalá, Novos dizeres e Representações do escondido. Ocupa a cadeira 18 da Academia de Letras de Ilhéus e é membro fundador da Academia de Letras de Itabuna.