Abordar a religiosidade nagô no imaginário nacional implica focalizar fraturas que revelam mandonismo, elitismo e exclusivismo. Isso, porque o Brasil se construiu sob o domínio de uma ideologia europeia, mercantilista, patriarcalista e católica. Toda e qualquer prática social que se distancie do modelo importado costuma ser rechaçada.
Apesar da existência de Lei que garante o direito de culto e o uso de linguagens outras, a liberdade não se faz plena, uma vez que a perseguição e a discriminação ainda continuam. Situação idêntica à dos que têm outra orientação sexual, dos que também vivenciam a igualdade entre o Masculino e o Feminino e dos que têm o fenótipo do negro africano ou do índio.
Autor: Ruy do Carmo Póvoas

Ruy do Carmo Póvoas (1943) nasceu em Ilhéus. A partir de 1970, fixou residência em Itabuna, onde fundou o Ilê Axé Ijexá, terreiro de candomblé de origem nagô, de nação Ijexá, no qual exerce a função de babalorixá. É licenciado em Letras pela antiga Faculdade de Filosofia de Itabuna e Mestre em Letras Vernáculas (UFRJ). Lecionou Língua Portuguesa durante 50 anos, até quando se aposentou pela UESC. Coordenou, durante 16 anos, o Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais – Kàwé, da Universidade Estadual de Santa Cruz, do qual é fundador. Também, sob sua coordenação, foram criados o Jornal Tàkàdá, o Caderno Kàwé e a Revista Kàwé. Poeta, contista e ensaísta, Ruy tem publicado: Vocabulário da paixão, A linguagem do candomblé, Itan dos mais-velhos, Itan de boca a ouvido, A fala do santo, VersoREverso, Da porteira para fora, A memória do feminino no candomblé, Mejigã e o contexto da escravidão, A viagem de Orixalá, Novos dizeres e Representações do escondido. Ocupa a cadeira 18 da Academia de Letras de Ilhéus e é membro fundador da Academia de Letras de Itabuna.