Coisas da Vida é constituído por 204 minicontos, urdidos a partir da textura do cotidiano. Os temas predominantes são as vicissitudes da vida, as cores, as dores, os sabores, os deleites e as agruras do povo, da gente humilde e maltratada pela sorte. Neles, Odilon Pinto explora o inusitado, o cômico, o extraordinário. No fundo, revela a variabilidade da alma humana em sua nobreza e em sua miserabilidade. Alma essa que se manifesta no trivial, no banal, no corriqueiro, no ordinário, que se manifesta na vida como ela é. Isto mesmo, esta ficção remete A Vida Como Ela É, do genial escritor mineiro Nélson Rodrigues, cuja lembrança acaba por ser convocada em Coisas da vida, não tanto pelos cenários e temas, mas pelo propósito de fundo em desnudar a alma humana. Creio que essa ponte literária se nos apresenta como um filão oportuno de análise e de crítica.
Seu realismo, potencializado pela utilização de topos e situações corriqueiras das terras grapiúnas, de Itabuna, de Ilhéus, de Buerarema, de Itajuípe e de um grande número de outros lugares do mundo engendrado pelo cacau, faz sua ficção quase se confundir com a realidade, ainda que em vários minicontos pareça alcançar o inusitado, o transcendental e o extraordinário, tangenciando o inverossímel, o fantástico. O traço diferenciador desta obra está em ver e descrever a realidade do corriqueiro, do cotidiano, do povo miúdo, pobre e sofrido de sua terra, ora com rudeza e crueza somente superadas pela própria realidade, ora com sutileza e a leveza de um humor que irrompe graciosamente de situações engendradas pela vida, muitas vezes longe de serem cômicas quando vistas na perspectiva de seus infindáveis protagonistas, que se sucedem uns aos outros, de conto em conto. Se fosse possível encerrar Coisas da vida em um epítome, esse poderia ser o cotidiano elevado ao que esse contém de mais inusitado, singular e, por vezes, extraordinário.
Autor: Odilon Pinto
Odilon Pinto de Mesquita Filho nasceu em Teresina, Piauí, no dia 15 de julho de 1948, onde cursou o ginásio e o ensino médio em colégio jesuíta. Em 1966, engaja-se no movimento estudantil contra a ditadura militar entrando, logo a seguir, na militância clandestina, ligado à organização Ação Popular. Participa das lutas camponesas no Maranhão e milita entre os trabalhadores rurais de Camacã, no sul da Bahia. Preso em Ibicaraí, é torturado e condenado a três anos de reclusão, cumpridos na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. Trabalha como professor, jornalista, radialista e bibliotecário, enquanto faz o curso de graduação em Letras pela UESC. Aprovado em concurso público da Ceplac, apresenta o programa radiofônico “De Fazenda em Fazenda”, na Rádio Jornal de Itabuna, durante 13 anos. Aprovado em concurso para professor da UESC, faz Mestrado e Doutorado em Lingüística, pela Universidade Federal da Bahia.