Travessias do Travesso Pindo D’Água é um texto-metáfora da liberação dos medos e da força de lutar pela vida e pelos ideais. Pindo D’Água é um personagem belíssimo que luta com muita diginidade pelo direito de nortear seu destino, de decidir seus caminhos e tentar ser feliz. É quase uma alusão à luta pela vida na corrida do espermatozóide para a fertilização do óvulo.
Em Jorge de Souza Araujo escrever e viver são sinônimos. É um escritor que fala ao mundo através de sua escrita e que, no exercício de recriar o mundo, o faz para conhecê-lo, opondo-lhe resistências, projetando-lhe utopias, resgatando um idealismo que, hoje, época de desilusões, está tão esquecido. Ao dar voz a um simples pingo d’água, constrói uma linda defesa da vida e da natureza. Escrever é seu modo de brigar contra as dores do mundo, o sofrimento e as agruras da condição humana. Ao mesmo tempo, é uma forma de tentar seduzir as pessoas. Sua linguagem é fluente, lírica e, ao mesmo tempo, dura. Pingo é um personagem sonhador, ousado, alguém que questiona o dito curso normal da vida. Meio trapalhão, deseja ser feliz, pretende ser capaz de dominar seu próprio destino e burlar os reveses da vida. E consegue, com sua persistência saturniana, dar conta de realizar tarefas consideradas impossíveis a um simple pingo d’água e sua vitória se transforma num belo exemplo de luta pela grandeza de querer viver dignamente em consonância com os seus ideais.
Autor: Jorge de Souza Araujo
Escudado em misteres profissionais exercidos durante 53 anos (comerciário, bancário, jornalista e, sobretudo, professor – carreira em que se fez mestre e doutor pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e servidor público militando no ensino superior), Jorge de Souza Araujo teria acumulado menos experiências que anseios de descobertas. Também se faria pesquisador, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, sempre buscando desvelar epifanias e alumbramentos, conhecimentos de si e dos demais humanos espelhados em tarefas intelectuais. Sertanejo de Baixa Grande (cidadezinha encravada na aridez da paisagem catingueira da Bahia), cedo migrou para outras regiões do Brasil contíguo ou longínquo e para o universo dos desvelos humanistas. Idealista sem remédio, deu disso provas ajudando a povoar o mundo com filhos e netos, e publicando mais de quatro dezenas de livros, revelando esforços de interpretação do leitor colonial, José de Anchieta, Antonio Vieira, poesia e prosa do Romantismo brasileiro, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Jorge Amado e outros autores, assuntos, matérias, pensamentos e emoções.