Livros de contos sempre inspiram um cesto interessante de frutas, pela diversidade de sabores e cheiros, o conjunto de cores, preferências e costumes. Há quem não leve a sério o que se escreve nas orelhas e prefácios por entenderem que são elogios anunciados; há quem nem lê o conteúdo, cria um mistério sobre o autor e sai de cena, escrevendo, porém, sem dizer nada. Em determinado livro de um autor africano eu gostei do prefácio, no entanto os contos ficaram devendo; em A Lanterna Mágica, de Bergman, Woody Allen escreveu uma resenha que a editora brasileira adotou como prefácio e ficou sensacional, tanto o livro quanto a ideia aproveitada. Qualquer conto deste livro poderia emprestar o seu nome ao título: todos estão amparados pelo padrão deste autor, e no final o leitor terá a sensação de ter passado por diversas viagens, sem precisar da transposição das águas; não há resíduos a serem aproveitados e o autor sai de uma situação de consternação para o riso, e vice-versa, com impressionante facilidade. Kahê dialoga com a tradição literária: sua intertextualidade renova as vozes dos clássicos, porem deságua mesmo é no moderno. O escritor antenado vive de escutar a canção literária do mundo e se a arqueologia se preocupa com isso, ela terá motivos bastante para identificar a beleza deste trabalho.
Autor: Carlos Kahê
Carlos Kahê é professor de literatura; pós-graduado em jornalismo, economista, compositor e autor de O Bailado Humano livro de contos publicado pela Editora 7 Letras, Rio; Sangue na Rua das Flores, romance lançado pela Helvécia, Salvador; A Rosa do Tempo, livro de contos publicado em SP, pela Livronovo e o romance Um rio perene, Editora seven&system, SP. No plano artístico, Kahê participou de inúmeros festivais e mostras musicais; tem publicações em revistas e coletâneas nacionais; poeta, ele está sempre perfumando sua prosa com a poesia, mas sempre atento à clareza e à concisão, estilo que somado à leveza de suas narrativas tem encurtado muito a distância entre o seu texto e o seu leitor.