O conjunto da obra de Machado deAssis, de tão polimorfa e multímoda, acabou por versar em truísmo o reconhecimento de sua polivocidade. O esforço de aqui estudá-la na perspectiva de sua criticidade exigiu-nos um caráter adicional que a nós mesmos nos impusemos: o de identifi car e reconhecer que o ofício e papel do Machado crítico não se limitaram aos ensaios de natureza estrita, caso d’“O primo Basílio”, “O instinto de nacionalidade”, “O ideal do crítico” e “A nova geração”. Ampliou-se o espectro para a crítica interna advertida em romances e contos, mas também ao que surpreendemos em suas ideias sobre poesia e teatro, nas crônicas, miscelânea e dispersos, chegando até ao conteúdo da crítica intrínseca nos papéis de sua correspondência ativa magistralmente recuperada pela edição Aguilar da Obra completa.
Autor: Jorge de Souza Araujo
Escudado em misteres profissionais exercidos durante 53 anos (comerciário, bancário, jornalista e, sobretudo, professor – carreira em que se fez mestre e doutor pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e servidor público militando no ensino superior), Jorge de Souza Araujo teria acumulado menos experiências que anseios de descobertas. Também se faria pesquisador, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, sempre buscando desvelar epifanias e alumbramentos, conhecimentos de si e dos demais humanos espelhados em tarefas intelectuais. Sertanejo de Baixa Grande (cidadezinha encravada na aridez da paisagem catingueira da Bahia), cedo migrou para outras regiões do Brasil contíguo ou longínquo e para o universo dos desvelos humanistas. Idealista sem remédio, deu disso provas ajudando a povoar o mundo com filhos e netos, e publicando mais de quatro dezenas de livros, revelando esforços de interpretação do leitor colonial, José de Anchieta, Antonio Vieira, poesia e prosa do Romantismo brasileiro, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Jorge Amado e outros autores, assuntos, matérias, pensamentos e emoções.