O estudo está baseado na notável subversão do sistema referencial do espaço utilizado na obra medauariana, traduzida pela semantização dos lugares dotados de simbologia, da relativização dos estereótipos sociais representados nas figuras humanas, das cenas de espaços públicos e privados e dos produtos que definem o universo sociocultural retratado pelo autor. A análise de tais elementos identitários, reconhecidos em seus contos, evidenciou que a identidade sul-baiana sofreu, ao longo do tempo, uma mobilidade, diferente daquela propagada por autores que antecederam Jorge Medauar.
A obra de Jorge Medauar traduz elementos até então considerados parte de histórias lendárias sustentadoras da ideia de cultura da região grapiúna, considerando os indícios revelados pelos aspectos de verossimilhança que revelam aspectos históricos, sociais, filosóficos e culturais pelos quais passaram a região. A análise realizada mediante as obras literárias ratifica a relevância de tal produção no campo ficcional, sugerindo caminhos para novas análises em direção à inserção de autores pouco estudados no âmbito acadêmico. Portanto, diante da nova perspectiva identitária da região sul-baiana, apresenta-se a proposta de (re)definição da identidade local fragmentada, com a finalidade de reafirmar no conto o resgate memorial de uma cultura em transformação, revelando um novo perfil que vem surgindo na contemporaneidade através da leitura investigativa das obras Água Preta (1958), A procissão e os porcos (1960), Histórias de menino (1962) e Visgo da terra (1983), obras que sequenciam e substancializam a produção de Jorge Medauar.
Autora: Juciene Silva de Sousa Nascimento
Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Adventista da Bahia (FADBA) e graduada em Letras com Espanhol pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Atualmente é integrante do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Cultura, Ensino e Linguagens (GEICEL/UNEB), Campus X, atuando nas linhas de pesquisa I – Literatura: crítica, memória, cultura e sociedade e III – Docência, Pesquisa e Formações. Ademais, fez parte do Grupo de Estudos A Literatura de Jornal em Periódicos Brasileiros (UEFS), atuando na linha de pesquisa Literatura, Memória e Representações Identitárias.