As câmaras dos deputados defecam e andam para nossas hipotéticas exasperações. O fim de salários extras e convocações para aperfeiçoamento do éter nunca vingarão no solo fértil das maracutaias em penca. No plano internacional, o sopro de liberdades autonomistas na Venezuela, Bolívia e Chile é rapidamente sufocado pela fragrância de horrores no Haiti (agora mesmo contemplo e me deprimo ante a foto colorida de um soldado haitiano, deliciando-se com alguma iguaria tropical em sacolé de plástico gelado, enquanto oprime com a bota seu compatriota e irmão em etnia e sofrimento) ou pela operação messiânica dos Estados Unidos despejando mísseis contra alvos livres no Paquistão, mirando a morte de algum dirigente da Al-Qaeda e só conseguindo despachar 18 inocentes, inclusive mulheres e crianças, para o reino de Alá.
Autor: Jorge de Souza Araujo
Escudado em misteres profissionais exercidos durante 53 anos (comerciário, bancário, jornalista e, sobretudo, professor – carreira em que se fez mestre e doutor pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e servidor público militando no ensino superior), Jorge de Souza Araujo teria acumulado menos experiências que anseios de descobertas. Também se faria pesquisador, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, sempre buscando desvelar epifanias e alumbramentos, conhecimentos de si e dos demais humanos espelhados em tarefas intelectuais. Sertanejo de Baixa Grande (cidadezinha encravada na aridez da paisagem catingueira da Bahia), cedo migrou para outras regiões do Brasil contíguo ou longínquo e para o universo dos desvelos humanistas. Idealista sem remédio, deu disso provas ajudando a povoar o mundo com filhos e netos, e publicando mais de quatro dezenas de livros, revelando esforços de interpretação do leitor colonial, José de Anchieta, Antonio Vieira, poesia e prosa do Romantismo brasileiro, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Jorge Amado e outros autores, assuntos, matérias, pensamentos e emoções.