Não será exagero encontrar a presente obra na prateleira do romance aberto, em que o narrador principal situa os diversos quadros a concluir-se com a utopia de um encontro com um sonho impossível, sustentado na conversa pretérita da existência de um el dorado nos confins do sertão.
O leitor, ao adentrar-se na narrativa, também mergulha num tempo e num palco singular, vive ou revive esse naco de mundo interiorano que teima em sobreviver no linguajar e nos causos contados. Entre nuvens de âmbar… não integra Amendoeiras de Outono, mas bem que poderia integrar. Não estando, seguramente, negrita, dá realce, à dimensão crônica das obras deste autor, que mantém estilo e linguagem em todas elas, mas que traz à tona nesta, numa fala mansa e cadenciada, que dura a viagem toda, também o falar coloquial propriamente dito, por si só, uma riqueza à parte da própria narrativa, capaz de despertar interesse em linguísticas que buscam conhecer os diversos dialetos deste não menos diverso e vasto país.
O Editor
“[…] uma obra não se basta na expressão dos fatos que a constituem, porque o que envereda pela literatura cobra elementos técnicos que a façam reconhecida e nela há de estar o escrito em plenitude, por exteriorizar as revelações contidas para repercutir o conteúdo, onde o uso estético da linguagem constitui o elemento predominante. Para tanto não dispensará, pelo menos, alguns aspectos, aqui escolhidos para a presente consideração, como patrimônio linguístico, a prosa em si, o que desperta no leitor o seu conteúdo textual e a dimensão estilística com possíveis elementos que possam caracterizar a identificação da obra no contexto da universalidade literária.
- Ao analisar o patrimônio linguístico e cultural do texto que a perfaz pode-se perceber que o cenário onde as ações se iniciam ou se desenvolvem é regional, em virtude das descrições e expressões do território baiano ou do sertão ou do semiárido de qualquer região do Nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo há descrições de matas, zona de pastagens ou aqui ou acolá de vegetação verde o que possibilita ao leitor devidamente qualificado (aquele proposto por Jauss em Teoria da Recepção) imprimir sua interpretação de acordo com o horizonte de expectativa que possui. Assim sendo, percebe-se que não há, rigorosamente, uma tipificação regional, mas uma descrição que se pretende universal – a exemplo do que ocorre em fragmentos de textos de outros autores regionais.
- A prosa que, por vezes, se torna poética é o resultado da utilização recorrente da repetição de sons, de elipses, aliterações e do ritmo cadenciado das palavras, com a incidência de sílabas tônicas marcando desta forma o andamento da construção textual, o que faz lembrar a lição de Octávio Paz, em O Arco e a Lira: “Para que a linguagem se produza é mister que os signos e os sons se associem de tal maneira que impliquem e transmitam um sentido”.
Construções verbais interessantes e melódicas ratificam que o poético não resta adstrito somente ao poema, mas também na prosa, constituindo-se o que os críticos denominam de prosa poética.
[…]- O estilo denso, que traz subliminarmente as contradições históricas e socioeconômicas de uma ampla região baiana, não a limita mas se encaixa ou se modela a qualquer outra do Brasil, onde esses bens simbólicos emergem com significativa força, sem, no entanto, constituir-se uma obra panfletária e vinculada ideologicamente. Desta forma cumpre a função social da literatura que é redimensionar o real e propiciar ao leitor inúmeras possibilidades interpretativas.
O autor traz ao universo literário uma contribuição com características bastante específicas, capaz de reconhecimento crítico pela riqueza contida, seja-o através do patrimônio linguístico que oferta, seja-o pela construção textual que emerge do estilo que traz a lume nesta sua viagem em prosa.”
Maria Laura Gomes
Professora aposentada de Teoria da Literatura e de Literatura Brasileira
no Curso de Letras e de Direito Ambiental e de Teoria do Estado
no Curso de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC,
Mestra em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela UESC
Autor: Adylson Machado
ADYLSON Lima MACHADO, nasceu em Monte Alegre da Bahia (atualmente Mairi). Reside em Itabuna. Advogado e professor, leciona Direito Municipal e Direito Financeiro no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC, em Ilhéus.