ESTE conjunto de textos de e sobre o Amor – estudo e antologia – foi originalmente concebido para prestar-se como Anexos de registros líricos a propósito de um sentimento dos mais perenes da experiência humana, no plano do real ou do simbólico, em complemento ao livro (sob a perspectiva desse mesmo registro e por ele inspirado a partir da motivação do eterno feminino) Invocação e retorno a Beatriz. Face à sua extensão, ganhou ele identidade própria, justificando sua autonomia editorial.
Impomo-nos aqui acompanhar o desenvolvimento temático e motivacional do Amor desde a égide clássica latina (Virgílio e Ovídio), a religiosa cristã (vale dizer, bíblica: Salomão e o apóstolo Paulo de Tarso), à trovadoresca, cancioneira, do humanismo classicista, maneirista, barroca, arcádica, romântica, parnasiana, até chegarmos à contemporaneidade brasileira. Não é, portanto, escorço tão exaustivo quanto seria de desejar, mas uma proposta seletiva de textos e contextos de e sobre o amor humano em suas dimensões estéticas, tão ou quanto mais urgente se mostra tratar do assunto em tempos de asperidades e vértices e colapsos da afeição humana nos dias que correm.
Do ponto de vista poemático, os textos antologiados têm na predominância do soneto o mais longevo dos estilos, com quase oitocentos anos de representação, a sua peça de resistência no reconhecimento do Amor como um fenômeno humano, natural, psicológico e existencial, motor e alavanca de nossa sobrevivência ou (a)ventura sentimental desde que nos identificamos com o universo das emoções. E o principal modelo de ardência na composição dos afetos anímicos envolvendo o Amor, aqui compreendido como signo fundado sob Virgílio (70 – 19 a.C.) e consolidado sob Dante Alighieri (1265-1321), toma as proporções de uma maior correlação de forças e influências sob Francesco Petrarca (1304-1374), aquele que melhor inspira o entoar melancólico (romântico avant la lèttre), sobretudo do Amor não correspondido.
Autor: Jorge de Souza Araujo
Escudado em misteres profissionais exercidos durante 53 anos (comerciário, bancário, jornalista e, sobretudo, professor – carreira em que se fez mestre e doutor pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e servidor público militando no ensino superior), Jorge de Souza Araujo teria acumulado menos experiências que anseios de descobertas. Também se faria pesquisador, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, sempre buscando desvelar epifanias e alumbramentos, conhecimentos de si e dos demais humanos espelhados em tarefas intelectuais. Sertanejo de Baixa Grande (cidadezinha encravada na aridez da paisagem catingueira da Bahia), cedo migrou para outras regiões do Brasil contíguo ou longínquo e para o universo dos desvelos humanistas. Idealista sem remédio, deu disso provas ajudando a povoar o mundo com filhos e netos, e publicando mais de quatro dezenas de livros, revelando esforços de interpretação do leitor colonial, José de Anchieta, Antonio Vieira, poesia e prosa do Romantismo brasileiro, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Jorge Amado e outros autores, assuntos, matérias, pensamentos e emoções.