Legendas de encantados aboios, misto de conto maravilhoso, legendas míticas da amizade, encantamentos e sortilégios dos afetos de plena égide de atrocidades, estas crônicas fl orentinas revelam um Clóvis tal como traduzido pelos meninos cariocas que, do clown – palhaço shakespeariano – transtornaram sorrateiramente a gramática do idioma, transformando os grupos em Clóvis, mascarados que circulavam em blocos na tradição dos antigos carnavais de rua, festa popular de bairros e periferias, sem feéricas lapidações dos strasses (e stress) da vida urbana, com sua alegria mercantilizada nas avenidas e sapucaís das urbes cada vez mais cosmopolitas, despersonalizadas e sepultas nas deserções de um cotidiano sem graça.
Com estas crônicas, Clóvis Ramaiana provoca, convoca e deixa claro que o historiador, o memorialista, o cronista, o homem de letras e de ideias não precisa engolir cabo de vassouras para traduzir os saberes. Antes investe nas letras de lei, nas letras de lei das almas e dos corações, sensibilidades e estesias dignas de salvar-nos dos descalabros da existência de sobejos que nos legaram e das mesmices de uma era de ferozes repercussões dos modelos do viver num hoje e num agora cada vez mais amargos.
Autor: Clóvis Ramaiana
O nascimento natural foi em Feira de Santana, sertão da Bahia. O nascimento cultural, aquele que comecei a me fazer com minhas mãos, entretanto, foi na sertaneja cidade de Tanquinho. Ali produzi a minha pré-graduação com as cantigas da passarinhada, ao sabor da chuva boa, ouvindo narradores talentosos, sentindo o cheiro do requeijão fresco; vendo “boi roubado”, samba de roda, bata de feijão. Sou sertanejo de um lugar: Tanquinho! Pelas veredas do tempo, caminhei a minha graduação em história na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), em 1995. Profi ssionalmente tenho vendido minhas aulas no mesmo recanto onde me graduei. Pela universidade sertaneja festejo a vida falando de teorias e histórias, brincando de fazer rir a dogmática seriedade da academia, desconfi ando de sisudas pretensas científi cas. Sou professor do Mestrado em História na UEFS e na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) de Alagoinhas. Gosto de pesquisar cidades e de me perder por elas, das relações entre literatura e história, da poesia como forma narradora, do sertão como imenso mundo a ser transformado.