Este livro nasceu como uma tentativa de resposta, mesmo que póstuma, às questões colocadas por Patativa do Assaré no conjunto total da sua obra Cante lá que eu canto cá e do amor de Cyro de Mattos pelo Rio Cachoeira, demonstrado na sua obra Vinte poemas do rio. Aqui há um jogo de espelhos, cujos reflexos (em parte) se convertem numa só imagem – a imagem poética que cristaliza o momento da vida no seu acontecer de arte. Não desejo, assim, rivalizar com o poeta cearense ou duelar com o poeta grapiúna. Não pretendo marcar o livro de Patativa do Assaré com a cicatriz da comparação equívoca (e sem sentido) no ambiente poético ou desconstruir a narrativa lírica e pueril sobre o Rio Cachoeira, realizada por Cyro de Mattos. Meu objetivo é outro – dialogar com a forma na direção de um mimetismo do conteúdo. Se Patativa do Assaré canta as coisas do sertão e Cyro de Mattos o chão da sua terra alimentada pelas águas de um rio, eu, embrião de poeta que sou, ensaio apenas o coro de um canto ainda em gestação da minha terra natal, rica em poesia, arte e beleza. Cante aí que eu canto aqui é um eco estético, inacabado e simples (em mim), do próprio tempo instaurado pela poesia desses dois poetas. O leitor poderá, então, tirar as suas próprias conclusões sobre aquilo que neste canto soa como homenagem e aquilo que soa como diálogo.
Autor: Lourival Piligra Júnior
Piligra (Lourival Piligra Júnior), nasceu em Itabuna no ano de 1965. É professor na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) desde 1996 e possui mestrado em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).