A Editora Via Litterarum – Via entrevista o escritor e jornalista Daniel Thame, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.
SOBRE O ATO DE ESCREVERVIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como LEITOR e que a leitura faria parte de sua vida?
DT – Desde adolescente eu tive um fascínio pela leitura e nos meus tempos de seminarista tinha uma biblioteca farta à disposição. Aos 18 anos me descobri Jornalista, profissão que abraço até hoje, e minha relação com os livros se tornou permanente.
VIA – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?
DT – Fui despertado pela necessidade de transformar em literatura o que vivenciei como jornalista: a tragédia de proporções bíblicas provocada pela vassoura-de-bruxa, doença que devastou os cacaueiros e, por extensão, o Sul da Bahia.
Nascia o livro Vassoura, que considero uma obra definitiva e na sequência vieram A Mulher do Lobisomem, Jorge100anosAmado-Tributo a um Eterno Menino Grapiuna, Manual de Baixo Ajuda e O Gato que tinha três nomes, minha primeira incursão na literatura infantil.
VIA – Hoje, em termos de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?
DT – Como o jornalismo demanda dedicação quase integral, estou gestando meu primeiro romance (ainda sem título) e relançando o livro infantil. O desejo de investir na carreira literária é imenso.
VIA – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?
DT – Escrevo quase como um complemento da atividade jornalística. Me considero menos um escritor e mais um jornalista que eventualmente escreve livros.
VIA – No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escritor?
DT – Na verdade a inspiração brota a qualquer momento. Vassoura foi escrito em 20 dias, que foi mais ou menos o mesmo período dos demais, a exceção do tributo a Jorge Amado, escrito em 60 dias.
VIA – Como fica a relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?
DT – Pode parecer pretensioso, ou despretensioso, mas em todos os meus livros o primeiro texto foi sempre o texto final, com as devidas correções da revisão.
SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA
VIA – Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?
DT – Jorge Amado, José Saramago e Gabriel Garcia Marques.
VIA – Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?
DT – Cinco livros.
VIA – Qual obra considera a principal?
DT – Vassoura é, seguramente, meu melhor livro.
VIA – Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e que experiências possui em relação aos outros gêneros literários?
DT – Escrevo basicamente contos, herança da concisão exigida em meus anos de redator de telejornais. Daí a dificuldade de gestar meu primeira romance.
VIA – Quando escreve ficção, ao iniciar, a narrativa está praticamente pronta ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?
DT – Nunca tenho a narrativa pronta. É como se os personagens fossem definindo seus destinos durante a narrativa. É algo absolutamente diferente do jornalismo, onde os fatos estão aí e fugir deles é resvalar para a ficção.
VIA – Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?
DT – A máquina nunca vai substituir a realidade, da mesma maneira que ler um livro impresso é mais prazeroso do que o digital. Claro que essa é a opinião de um velho dinossauro da imprensa.
VIA – Qual o maior problema para a poesia e a ficção, em uma palavra, para a literatura hoje?
DT – Leitores.
VIA – Em qual (ou quais) projeto(s) literário(s) está se dedicando no momento?
DT – Gestando um romance que se passa no Sul da Bahia, Grande São Paulo, Cuba, França e Itália. Mas a concepção desse filho está difícil, imaginem o parto.