Encontro em prosa e verso: Humberto Cavalcante

A Editora Via Litterarum – Via entrevista o poeta e escritor Humberto Cavalcante, abordando algumas questões com vistas à compreensão acerca do ato de escrever e sobre a criação literária propriamente dita.

Humberto Cavalcante
Humberto Cavalcante

SOBRE O ATO DE ESCREVER

Via – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como LEITOR e que a leitura faria parte de sua vida?

HC – Desde garoto, quando era viciado na leitura dos “gibis” (Rocky Lane, Flecha Ligeira, Super X, Zorro, Gene Autry, etc.), que a leitura me fascinou. Depois eu saí dos “quadrinhos” e passei para os livros de texto, quando eu tinha que formular o cenário na própria mente.

Via – Como e em que momento ou circunstância se percebeu como CRIADOR LITERÁRIO ou AUTOR e que escrever faria parte de sua vida?

HC – Eu me dei conta de que poderia ser autor quando escrevi algumas crônicas para o tabloide SB Informações e Negócios, a convite do meu amigo e colega ceplaqueano Roberto Junquilho. Antes disto, na Ceplac, eu me associei a muitos “pen pals” (clubes de correspondência que existiam no mundo inteiro) cujo objetivo era fazer amigos aqui e acolá.

Via – Hoje, em termos de ocupação do tempo dedicado ao trabalho, qual o espaço ocupado pela literatura?

HC – A pandemia da covid-19, essa virose sobre a qual há muitas perguntas até agora sem respostas  ̶  por exemplo, “o vírus escapou acidentalmente do laboratório ou foi deliberadamente colocado na natureza?  ̶ , bagunçou a vida de todo mundo, e eu não sou nenhuma exceção. Como fiquei com muito tempo ocioso, e como já se disse que “a cabeça vazia é a oficina do demônio”, eu resolvi preencher o vazio da minha mente pesquisando sobre diversos assuntos e escrevendo.

Via – Alguns autores escrevem como uma necessidade existencial. Se fosse possível resumir a motivação principal do porquê escreve, qual seria?

HC – Eu escrevo porque fui motivado para isto, além de sentir uma necessidade interior de dizer o que penso, o que às vezes tem causado animosidade com alguns fanáticos. Como motivador inicial cito meu pai, que apesar de seus parcos conhecimentos cultuava o grande poeta e escritor Humberto de Campos. E esta foi a razão de eu ter sido batizado como Humberto.

Quando eu era menino costumava decorar poesias para recitá-las à minha tia Judith que, em troca, me dava um cruzeiro (aquele azulzinho com a cara do Almirante Tamandaré) para comprar balas.

Como incentivadores, cito também o meu falecido amigo Myrthes Petitinga, o próprio Roberto Junquilho e, ultimamente, o meu amigo e ex-companheiro de viagens Antonio Lopes, esse gênio da crônica, que felizmente voltou ao nosso convívio após um estágio na “terra das alterosas”.

Via – No período de um dia, qual seria a rotina enquanto escritor?

HC – Não tenho uma rotina como escritor. Às vezes eu me sento diante do notebook e a mente fica como uma bússola que está sofrendo interferência magnética: não vai a lugar nenhum. E aí eu vou pesquisar os mais estranhos assuntos (sou um curioso inato).

Via – Como fica a relação entre INSPIRAÇÃO e REELABORAÇÃO DO TEXTO ESCRITO na sua criação literária?

HC – Não tenho lá essas inspirações todas, mas quando me direciono para determinado assunto, escrevo sem parar. Somente depois é que eu vou reler, corrigir ou refazer o que fizera anteriormente.

SOBRE A CRIAÇÃO LITERÁRIA

Via – Seguramente, todo escritor é antes um leitor. Enquanto leitor, qual autor (ou autores) e qual obra (ou obras) considera mais relevante para ser o escritor que é?

HC – Quanto a autores e obras fica meio difícil responder. Já li tanto e sobre tantas coisas… Tolstoi, Sêneca, Marco Aurélio, Stephen Hawking, Platão, George Orwell, Zygmunt Bauman, Carl Sagan. Decididamente, “Os dragões do Éden”, “1984” e o “O Universo numa Casca de Noz” foram livros que me impressionaram, além dos “Diálogos” de Platão.

Via – Da primeira publicação até hoje, quantas obras possui?

HC – Onze livros publicados, sendo dois de poesias, um sobre esporte (xadrez), dois sobre temas médicos, um que pode ser considerado aventura, um autobiográfico e os demais foram crônicas e críticas.

Via – Qual obra considera a principal?

HC – “Reminiscências”.

Via – Em qual gênero literário se situaria a parte principal de sua criação literária e quais experiências possui em relação aos outros gêneros literários?

HC – Crônicas. Quanto aos outros gêneros, sou um aventureiro.

Via – Quando escreve ficção, ao iniciar, a narrativa está praticamente pronta ou essa tem vida própria, surpreendendo o próprio autor, só se conhecendo o enredo e o fecho no próprio processo de criação?

HC – Escrevi apenas umas trinta páginas sobre ficção. Não sou muito chegado a ela. Foi apenas como complemento de um livro.

Via – Como vê a literatura em tempos de Internet, redes digitais, ChatGPT e outros aplicativos de Inteligência Artificial?

HC – A Internet, apesar de ter facilitado os meios técnicos de se escrever um livro e facilitar a sua divulgação, tirou muito o brilho da verdadeira literatura. Boa parte dos leitores fica limitada a resumos. Quanto à Inteligência Artificial, acho que ela será um sério problema com o qual o homem futuramente irá se defrontar (foi como se criar uma serpente para depois ser mordido por ela). Quem viver, verá.

Via – Qual o maior problema para a poesia e a ficção, em uma palavra, para a literatura hoje?

HC – “Vazio”.

Via – Em qual (ou quais) projeto(s) literário(s) está se dedicando no momento?

HC – No momento, estou de férias.

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