Este livro não pode ser lido, ou melhor, não se consegue ler este livro. Ele deve ser visualizado em cinema, ou por outra, ele deve ser imaginado. “A minha vida prática se confunde muito com a literatura, as vezes tenho dificuldade de limitar o que é meu e dos autores universais”. Esta fala da personagem ícone dá conta do autor que nela se impregna.
Visitam o texto: Elizabeth Bishop, Lacan, William Wyler, Henri-Marie-Beyle, Stendhal, Ezra Pound, T. S. Elliot, Marc Chagall, Roman Jakobson, Marguerite Duras, Fernando Pessoa, Joyce, Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge Luis Borges…
E é em Manoel de Barros que o autor se entrega inteiro. Usar o poeta como Kaê usou neste livro é cometer uma heresia imperdoável. Explicitar a poesia de Manoel como instrumento para haver-se com a normalidade canhestra do tempo presente é por demais.
O autor deveria ser preso nos grilhões de sua obra por afirmar que artista é aquele que põe beleza nas coisas, que o artista deve criar coisas bonitas e jamais colocar elementos da própria vida em sua arte.
Não cabe ao artista endurecer sua arte com teorias. Essas teorias não têm aplicabilidade na arte. Elas funcionam na prática, no dia a dia, no veio social, político, ou quaisquer outros aspectos que o artista não pode desconhecer. Mas não funcionam no exercício AAA. Arte, Alma e Artista.
Eu luto para que as minhas ideias, enquanto arte, sejam minhas referências. Eu luto para que as pessoas que as descobrem, encontrem nelas algo que mereça as suas memórias, e que a sua arte seja generosa com aqueles que têm sensibilidade.
Autor: Carlos Kahê
Carlos Kahê é professor de literatura; pós-graduado em jornalismo, economista, compositor e autor de O Bailado Humano livro de contos publicado pela Editora 7 Letras, Rio; Sangue na Rua das Flores, romance lançado pela Helvécia, Salvador; A Rosa do Tempo, livro de contos publicado em SP, pela Livronovo e o romance Um rio perene, Editora seven&system, SP. No plano artístico, Kahê participou de inúmeros festivais e mostras musicais; tem publicações em revistas e coletâneas nacionais; poeta, ele está sempre perfumando sua prosa com a poesia, mas sempre atento à clareza e à concisão, estilo que somado à leveza de suas narrativas tem encurtado muito a distância entre o seu texto e o seu leitor.