Este livro se chamaria Memória de um menino sem nome, mas estaria voltado às memórias do menino narrador, às mudanças e invasões definitivas que operavam em sua vida, vivendo a solidão do seu refúgio, sentado no trono magnífico da adolescência, de onde passou a julgar o mundo. O poeta Victor Hugo diria: “Que astro esplêndido é a mocidade?!” Mas os problemas do mundo não se restringem a um jovem; os problemas, numa cidade negra, como Salvador, estão muito longe de uma mansão de muros telados, num bairro emergente, e começa por indagar o porquê das conquistas dos cidadãos negros ainda incomodarem o senso comum: resistências aos processos de lutas e conquistas gerais, de defesas do direito a ter os seus bens: um cidadão afrodescendente, ao subir na escala social, nos dias de hoje, ainda encontra resistências, até dos próprios negros, desconhecedores dos seus princípios, valores e conquistas. A insígnia, Salvador território africano, não pode estar apenas numa canção ou numa licença poética, mas nas práticas, sem reservas, e que qualquer criança de subúrbio se orgulhe amanhã de começar a sua narrativa, como a deste livro, dizendo, no subúrbio, no Paripe, vivi a inocência adormecido em meio à alegria, rumores de vozes, cantigas e risos; vivíamos a inocência, a inocência feliz.
Autor: Carlos Kahê
Carlos Kahê é professor de literatura; pós-graduado em jornalismo, economista, compositor e autor de O Bailado Humano livro de contos publicado pela Editora 7 Letras, Rio; Sangue na Rua das Flores, romance lançado pela Helvécia, Salvador; A Rosa do Tempo, livro de contos publicado em SP, pela Livronovo e o romance Um rio perene, Editora seven&system, SP. No plano artístico, Kahê participou de inúmeros festivais e mostras musicais; tem publicações em revistas e coletâneas nacionais; poeta, ele está sempre perfumando sua prosa com a poesia, mas sempre atento à clareza e à concisão, estilo que somado à leveza de suas narrativas tem encurtado muito a distância entre o seu texto e o seu leitor.