Amizade é amor em essência. Por vezes abrange signos românticos inexplicáveis. Suas conexões amorosas se estendem, ponte pênsil, entre décadas. O livro que você tem em mãos se ergue a partir dessa sutil engrenagem. Engenhosamente, seu autor mergulha – como o narrador clássico de Walter Benjamin – na própria experiência. A história que emerge desse mergulho, no entanto, dá conta de um universo. Nele se movimentam seus personagens, jovens boêmios baianos que se irmanam numa espécie de confraria de homens, inicialmente batizada como Ex-abruptos.
O sentimento que os une em Os Onipotentes, título desse romance, não está imune a controvérsias. Bem ao contrário, são as pequenas diferenças e rusgas que alimentam seus conturbados encontros, sempre pontuados pela representação da fi nitude – o esqueleto shakespeariano Yorick. O cenário em que esse amor/amizade se desenvolve é o bairro do Rio Vermelho, com sua miríade de restaurantes e bares ao ar livre no coração da velha Cidade da Bahia. De imediato, portanto, essa trama instala um contrassenso: as angústias que se abrigam na ensolarada metrópole.
Autor: Márcio Matos
Nascido em Salvador, Márcio Matos é autor do romance “A suave anomalia” (Casarão do Verbo, 2010) e do livro de contos “A noite em que nós todos fomos felizes” (P55, 2014). Estudioso de literatura e cinema, também participou da antologia de contos “Outro livro na estante” (Mondrongo, 2015), inspirada em canções de Raul Seixas.)